quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mensagem de fim de ano (provável último post de 2010)

(Ligue o som pra começar a ler - provavelmente o tempo da música deve ser o mesmo necessário para a leitura de começo ao fim, e essa acabou sendo a intenção). PS: Terminando de editar precisamente às 21:12... Acho que isso quer dizer alguma coisa, e acho que pouca gente vai entender...


O despertador toca, e sua cabeça começa a zunir. São dolorosos segundos até perceber onde está, e se recompor de seu agradável sonho, e cair naquela ainda madrugada quente para iniciar sua rotina de exercícios.
Já estava acostumado a acordar antes do sol para caminhar por uma hora, uma hora e meia, fazer flexões e algumas abdominais antes do café da manhã e de se preparar para o trabalho no centro de pesquisas. A diferença é que hoje era um sábado, e havia acordado cedo apenas para manter seus hábitos e seu coração no ritmo. Parece no automático, com sua mente vagando em outro lugar. Via outro mundo com seus olhos, e sorria como criança enquanto caminhava sem sair do lugar na esteira... Sem nem ao menos perceber que sorria.
Correu quase duas horas, e não estava cansado, mas suava muito, e sentia que era hora de um bom banho. Pulou qualquer outro exercício e até mesmo o desaquecimento que fazia parte de seus hábitos e treinamentos para usufruir de uma banheira relaxante, com sais que pareciam massagear suas costas e o restante de seu corpo. Quase cochilou novamente, e viu, uma vez mais o mundo no reflexo de seu capacete. Podia sentir aquele estranho e louco mundo tão restrito... Tão limitado e pouco acessível. Olhou pra cima, e sentiu uma lágrima brotando em seus olhos. Se tinha alguma dúvida em sua mente... Não, não havia mais. Tudo estava no mais perfeito sincretismo. Havia encontrado tudo o que buscara a vida inteira. Quem imaginava que a vista seria tão bonita?
Acordou assustado, com o rosto um pouco quente e corado, e podia sentir que seus olhos estavam ainda marejados. Sentia-se diferente. Emocionado e sonhador, ao contrário do meticuloso físico que sempre fora. Perguntava freqüentemente a si mesmo que diabo havia acontecido. Estava levemente transtornado... Confuso... Mas estranhamente em paz e calmo. Nunca sentira isso antes.
Era cedo ainda. Resolveu sair de casa. Dar uma volta com seu carro até achar um bom lugar, calmo, agradável e pacífico, onde pudesse ver o sol nascer. E não foi difícil achar o lugar perfeito.
Um afastado coqueiro, próximo à praia onde era perfeitamente possível enxergar toda a extensão da areia fofa e branca quanto o cristalino azul da água que começava a brilhar com os primeiros raios do sol enquanto o céu também contrastava dando um tom avermelhado ao negrume da noite naquele inenarrável e único – porém tão comum – momento diário. Os primeiros raios de luz tocam a água e refletem. A água beija calmamente a areia em um contínuo e prolongado flerte, indo e vindo. O vermelho vai dando vazão a um alaranjado forte e brilhante com tons quentes que nem o mais inspirado artista foi capaz de captar com suas tintas e pincéis. Sua mente estava completamente vazia. Vazia, não. Absorvida. Ele, sua essência fazia parte e compunha aquele universo particular de uma maneira que jamais seria possível reproduzir.
Por um breve momento, pôde vê-la.
Ela sorria, tímida, e partia.
“Será um bom dia”, ele pensa, enquanto observa sentado calmamente compondo a paisagem idílica, enquanto observa o manto noturno desvanecer.
Ao ver a lua sumindo do céu seus lábios se moviam singelos e sem notar. “Adeus”, e sua mente se absorvia novamente em sonhos e lembranças. Enquanto a luz solar brilhava abraçando todo o mundo com seu suave toque, ele vislumbrava a imagem de outro ponto de vista.
Via do reflexo de seu capacete, com os olhos marejados e sorrindo como criança. Ele se sentia orgulhoso, cheio de si, e queria berrar para os quatro ventos, mas o sistema de comunicação estava falhando, e o pessoal na estação não o ouvia direito. Suas palavras também não pareciam fazer muito sentido, e, com toda a certeza, não faziam jus à imagem. Tudo o que ouviam eram palavras confusas e intercaladas, sem muito nexo entre si, com uma voz emotiva, quase chorosa, e,com toda a certeza, assistindo de uma versão menor, captada por vídeo – mas não menos expressiva – eles entendiam.
A Terra é azul.

O dia seguinte

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CURRICULUM VITAE - Julio Lins


Muito se fala sobre o desemprego conjuntural, desemprego tecnológico, friccional, o temporário, o gerado pela reestruturação das empresas ou o fechamento delas. Tem até o desemprego coercivo, popularmente conhecido como PDV (plano de demissão voluntária). Agora o desemprego mesmo, aquele que deixa o cabra louco, tão em moda aqui na terrinha de todos os santos, ninguém fala.

Dois tipos de reação são os mais comuns quando um “homem de bem” ouve falar que alguém está sem trabalho. A primeira é achar que é preguiça e falta de vergonha. No que concordo com todas as letras...onde já se viu! Com tanto emprego de vendedor de plano de saúde, tem gente que prefere ficar sem profissão. Aliás, essa profissão só tende a crescer assim como as filas nos hospitais públicos.

A segunda reação, e a mais sincera, é o desprezo total; e continuam brincando seus carnavais.
Deve-se explicitar que o desempregado é na verdade ser humano quase normal. Porém, observando-se atentamente percebe-se um problema de origem genética: pouca ou nenhuma percentagem de apadrinhamento.

Portador dessa grave enfermidade só lhe resta a alternativa de pagar para trabalhar, ou seja: trocar seu mês pelo salário que logo desaparece devido aos gastos excessivos com feijão, farinha e às vezes transporte, forçando o preguiçoso à prática de um esporte ao ir andando para bater o ponto.

Por falar em esporte e dieta, pode-se deduzir a vantagem que o brasileiro, e o nordestino em especial, tem frente a outros povos. Peguemos o exemplo dos americanos, aqueles lá de cima do mapa; eles morrem muito mais que nós de problemas relacionados com hipertensão e obesidade. Aliás, dizem que exércitos da antiguidade pagavam seus soldos em sal, daí se originou “salário”. Ora todos nós sabemos que sal aumenta a pressão das artérias...E pensar que o caro leitor ficava criticando a falta de aumento. Pura ignorância!

Podemos agora entender que o descaso pela saúde e a manutenção dos salários baixíssimos não tem haver com descaso, o governo pensa em longo prazo, cuidando até da sua estética. Aliás, você que por tudo coloca a culpa nos governantes não percebe que eles oferecem uma gama muito grande de opções através dos concursos públicos. Não é culpa deles se os seus filhos (os filhos deles) e parentes (parentes deles), são muito mais inteligentes que os dos outros.

Vou exemplificar casos desses altos QI’s para o incrédulo leitor: em 1992 foi realizado em São Paulo um concurso para preencher 46 vagas de auxiliar judiciário e oficial de justiça. Cerca de 40 mil candidatos se inscreveram, isso dá (socorra-me CASIO BX 12*) 870 candidatos por vaga. E não é que os danados dos parentes dos juízes que promoveram o concurso ficaram com 20% das vagas. Noutro caso o juiz e o presidente do TRT da Paraíba tinha nada menos que 63 parentes como colegas de trabalho. 1

Êita inteligença da gota serena! Se lá é assim imagine aqui.

Então, em vez de ficar aí reclamando, escrevendo crônicas sobre desemprego, trate de fazer como filho de juiz: queime índios, aliás, as pestanas, faça o concurso e quem sabe? Se alguma vaga sobrar...

Julio Lins, Salvador 20/5/1999


1 Duvida? Leia: VEJA 5 de maio, 1999 pg 116.

Vídeo Magia

Contra todos os argumentos dos amigos e parentes, contra todos os prognósticos do mercado e, talvez, contra sua própria razão, ele abriu uma vídeo locadora. E, como se não fosse o suficiente, resolveu que só alugaria fitas VHS. O nome era ‘Vídeo Magia 90’, o número remetendo à década. Só ele trabalhava na loja, que tinha apenas dois cômodos. Começava com uma pequena recepção, com balcão, uma estufa de salgados e uma TV de um metro e meio cúbico abaixo de um vídeo cassete de oito cabeças. Pôsteres preenchiam cada pedaço da parede.

Continuava em um salão com uma pequena janela, onde o acervo ficava exposto. Prateleiras pretas com 2 metros de altura preenchiam todas as paredes e riscavam quatro vezes o centro, formando corredores estreitos com um ar sombrio, quebrado apenas pela cortina vermelha, ao fundo, que delimitava os ‘filmes adultos’.

A inauguração despertou algum interesse da mídia local e gerou um pequeno movimento. As pessoas entravam e admiravam as caixas das fitas como se fossem objetos advindos do século XIX. Contudo, algumas pessoas liberavam um sorriso compulsório quando vislumbravam um velho conhecido. E eles estavam todos lá: Harry e Sally, Hannibal Lector, Mr. Udall, Willian Wallace, Forrest Gump, Jerry Maguire, Linkavich Chamovisk e tantos outros. Não que eles não estivessem disponíveis em outras mídias, mas aqueles ali eram os originais, os próprios, os que eles haviam reservado para o sábado, assistido três vezes - porque não teriam a chance de ver de novo tão cedo - e esquecido de rebobinar. As lembranças, precocemente longínquas, de uma coisa tão recente e arcaica, causavam um sentimento de conforto e segurança, como no final de um filme de ‘volta pra casa’.

Em algumas semanas a locadora estava entregue à poeira e o seu único cliente era seu próprio dono, que comia os salgados e assistia a filmes o tempo todo. Não obstante, ele a manteve aberta, consumindo seu patrimônio.

Entretanto, às vezes alguém entrava ali, por curiosidade, e se dirigia à sessão de aventura notando que havia uma cópia de Jurassic Park II, com a caixa imitando rocha fossilizada. Segurava o receptáculo como quem segura um espelho e sorria ternamente. Olhava a sua volta buscando tempos idos e encontrava apenas um único olhar cúmplice, que aquiescia com a cabeça.


Jefferson Atayde

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Jornal

Uma singela homenagem a Paulo Francis

Em uma cidadezinha do interior de São Paulo, próxima de uma divisa com outro estado, numa cidade pequena daquelas que mal tem um jornal - mas que por ordem do acaso e vontade política de uns e outros acabou acontecendo - o editor deste periódico, de nome emblemático 'A Tribuna', resolveu, por falta de alguém mais competente ou de verba no orçamento, escrever o editorial opinativo que por algum motivo era a coluna menos glamourosa e batizada na redação de 'o cantinho que sobrar', entre outras opções menos elegantes.
Com a falta de espaço corriqueira, usava pequenas poesias e frases inspiradoras para motivar seus leitores e amigos, enquanto preparava um elaborado texto para a edição de domingo, que, como dizia, de um jeito ou de outro traria suas palavras, nem que tivesse que cortar espaço de outras matérias. Não foi preciso, e com isso sua matéria contemplou quase metade da segunda página do jornal, e, ele orgulhoso, antes mesmo das prensas secarem tirou sua cópia e fez os preparativos para emoldurar o trabalho.
Esperou reações diversas da população devido a seu inflamado texto polêmico.
Tudo o que recebeu foram duas cartas. E uma era para a seção do horóscopo trazendo uma reclamação.
Indignado, preparou outro texto, ainda mais ferino e poderoso para o domingo seguinte, e, ocupando o mesmo espaço, fez o mesmo ritual da semana anterior para emoldurar este, que, segundo ele era seu melhor trabalho até o momento.
Nenhuma reação.
Perguntava aos amigos no boteco, nas ruas, e entre 'nhés' e 'mas tinha uma coluna na segunda página?', começou a perder a esperança de seu trabalho.
Desiludido, passou a semana inteira desmotivado e incapaz de escrever mais que uma linha. Três palavras, na verdade: "Corrupção de novo", que seria o título de sua matéria sobre um escândalo que vinha sendo discutido e analisado - e que devido a alguns acordos e concessões vinha sendo mascarado pela imprensa.
Foi pra casa mais cedo no sábado, com uma dor de cabeça, e acabou não vendo a finalização do jornal.
Eis que, num descuido ou falta de matérias ou acaso completo, naquele espaço semi-vago da segunda página vê-se estampado, em letras maiores que o normal - para que a página parecesse menos vazia, com duas pequenas alterações "Corrupção, de novo?".
Um rebuliço se instaurou na cidade. A população saiu em polvorosa querendo a cabeça do corrupto. A polícia tentava de todas as formas conter o caos, e imprensa e políticos locais trocavam acalorados 'elogios', enquanto tanto o autor direto, quanto o indireto da peça encontravam-se indiferentes aos acontecimentos.
Reza a lenda que a polícia federal interviu, prendendo os políticos locais envolvidos no escândalo, e que o, até então jornaleco ganhara renome, prestígio e alguns prêmios pelo dinanismo, inovação e brilhante jornalismo investigativo. Também reza a lenda que o autor e até então editor do jornal fora demitido antes de qualquer uma das reações positivas, e que, tempos depois não escrevia nem para fazer palavras cruzadas.
Mas isso é apenas uma história de jornal, e, como tantas, não deve ser vista como muito mais que isso.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Pra não passar a sexta em branco



(Se não ficou legível: É amarga, deve ser servida fria, bate um arrependimento enorme depois - mas na hora é tão bom...)

Boa sexta e bom fim de semana a todos!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

AMANHÃ EU DEVOLVO - Julio Lins



Quando éramos todos índios, apesar das inconveniências de ter que dormir em rede, éramos felizes. Tempos depois com o advento das paredes, das casas e edifícios, a humanidade criou, e ainda não aprendeu a conviver com um de seus maiores problemas: o vizinho.

Na tribo nada era próprio. Por isso nada podia ser emprestado. As tribos acabaram, viramos seres civilizados cada um na sua própria oca (nem todos tiveram essa sorte). Em algum momento da nossa história o que era parente se tornou vizinho. Este por sua vez começou a perceber que não precisava comprar tudo o que queria nas feiras do seu vilarejo. Bastava ir a casa ao lado. Foi aí que a verdadeira história começou.

Vizinho é aquele que mora ao lado da gente. Porém existem dois tipos mais incomuns: o de cima; aquele que a gente só lembra quando ele faz uma festa, e o de baixo; o que a gente não lembra de jeito nenhum a não ser quando ele reclama do vazamento no banheiro.

Mas o conceito de vizinho vem evoluindo. Segundo os estudiosos em vizinhologia deixou de ser apenas uma pessoa que mora contigüamente a nós para todo aquele, que por algum motivo cultural, bate na sua porta nas horas mais inconvenientes pedindo “emprestado” o que já é esperado: açúcar, sal e até pra tomar conta do filho dele enquanto ele vai “ali e volta já”.

Ora! Mas o atento leitor talvez tenha percebido que esta definição acima se confunde com as características encontradas nos amigos e parentes, com a diferença que estes pedem coisas menos incômodas como dinheiro, cartão de crédito, o carro etc. – tem razão, mas como já foi dito, o conceito está ainda em evolução.

O estudo não para por aí. Sabe-se também que existem vários níveis dessa doença. O mais avançado é aquele que já se acha amigo e às vezes faz uma visitinha social só pra demonstrar desinteresse. Nesta visitinha ele ou ela faz um inventário mental de todos os objetos emprestáveis não imprestáveis, para pedir na próxima aparição.

Relativo a este, nenhuma das táticas, como dizer que já está saindo, que está com uma dor de cabeça daquelas e, a mais utilizada, se fingir de morto, não funcionam. Vou explicar: o experiente indivíduo em questão sabe todos os seus horários, leva um analgésico sempre no bolso, ou então se for preciso toca a campainha até fazer os mortos ressuscitaram.

Geralmente esta criatura especial na hora de pedir atua como se tivesse sido pego de surpresa. Qual de nós, cidadãos indefesos já não fomos vítimas de tal ardil? “Oi tudo bem? É que eu ia fazer um bolo e na hora eu percebi que faltava farinha, manteiga, ovos e a batedeira... cê tem pra me emprestar aí?... amanhã eu devolvo”.Como se existisse amanhã em seu calendário.

A verdade é que não fomos ainda treinados para nos defender. Portanto caro amigo, da próxima vez que tocarem sua campainha, abra a porta com um sorriso e atenda bem o seu cliente, lembre-se que seu açúcar pode acabar e que você também é o vizinho de alguém.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Latido dos Cães - Edison Lotério

Entro no barraco de tijolos sem reboco. Ele está deitado no sofá, ouvindo música no rádio. Sento-me ao seu lado
E aí, cara.
Ele sorri, estende as mãos
Meu maninho, até que enfim você aparece. Por onde tem andado.
Trabalho.
Eu sei, braço direito, homem de confiança, grande mano.
Continuo olhando para ele deitado ali no sofá, sorriso na cara, sincero. Está mesmo feliz de me ver. Magro, cara de quem o pó está comendo por dentro. Levanta-se, passa as mãos pelo meu ombro e me arrasta com ele.
Vamos para a cozinha
Você não vai embora sem tomar uma comigo. Depois não sei mais quando você aparece. O cara é meu amigo de infância, somos ali, carne e unha, aí ele cresce e toma outros rumos, o amigo na maior saudade.
Sentamos na mesa, ele pega uma garrafa na geladeira, pela porta aberta entra o ar da noite, escutamos o murmúrio de crianças correndo, brincando, na rua. Pela porta vemos os postes que se acendem
Meu mano, que saudade quando éramos assim, parece conversa de velho mas é verdade. Você não sente dessas saudades.
É, nos divertíamos muito, a gente até que era alegre, até feliz.
Que nem letra de samba. Minha mãe é que gostava de você cara. Tinha orgulho de você. Se visse você agora ficaria feliz.
Eu não apareci no seu enterro, não podia.
Grande homem de negócios.
Escancara seus dentes num sorriso largo. Vejo ele ali, é um pedaço da minha vida nos casos que ele relembra, grande memória dos tempos perdidos, coisas que já tinha esquecido, coisas que davam uma moleza triste na gente. As garrafas se amontoam na mesa, e ele lembra, lembra.
Abre uma gaveta e tira o pó. Abre o saquinho na mesa
Para o meu amigo do peito.
Não quero cara, tenho um serviço mais tarde, preciso estar limpo.
Me coloca na jogada, estou enrolado com umas coisas, preciso entrar numa boa para livrar a cara, me põe nessa, cara.
É claro.
Olha pela porta aberta e a noite passa. Agora é o silêncio, a calma superficial. Ele está sentado na minha frente, cochilando, chapado. Abre os olhos e sorri ao ver que ainda estou ali
Grande amigo.
Saco a pistola e aponto para ele, que se endireita na cadeira, olhos esbugalhados
Brinca não, maninho. Não gosto disso.
Caralho, cara. Porque foi aprontar aquela merda.
Não, espera aí. Você não. Somos camaradas, ele mandaram você por isso. Somos irmãos, eles querem me assustar. Me ajuda, você pode, você me tira dessa, acerto com eles, fico barra limpa de novo, nunca mais vacilo.
Sorri
Mandaram você para me assustar. Puxa, você é meu irmão, não faria isso com seu maninho de sangue, mandaram você porque sabem que você me tira dessa, irmão.
Cacete, até parece que você não sabe como as coisas funcionam.
Aperto o gatilho, ele cai de costas, derruba a cadeira. Vou até o corpo, queria dar um tiro só para acabar de vez, mas ele está ali, estrebuchando. Atiro na cabeça, ele para. Não dá para ver se sorri, se está de olho aberto, a cara é uma posta de sangue.
Saio, logo vai amanhecer. Caminho pelas ruas desertas, escutando o silêncio no latidos dos cães.
A vida é mesmo uma merda.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Voltando a vida normal depois do TOughEL...

Hoje, domingo 12-12-10, eu comecei algumas mudanças aqui no Blog, para melhorar a segurança e administração do mesmo - ao mesmo tempo em que estou terminando no SISBB a lista de todos os participantes do festival desse ano para enviar o convite a todos que queiram participar/contribuir/agregar a este humilde espaço.

O motivo dessa primeira mudança - aferir usuários-contribuidores (eu estou postando de meu próprio e-mail, e não mais do administrador do blog) - se faz pela questão prática e simples que Dunbar tanto discursou... Ou, que o provérbio brasileiro dita: Cachorro com dois donos passa fome. Eu fiz alguns testes, e vi que alterar qualquer coisa com a conta de administrador é possível, e, uma simples alteração/mudança inadvertida/ataque de hacker proposital pode colocar todo o conteúdo do site fora do ar, seja por uma brincadeira de mau gosto ou por falta de coisa melhor pra fazer. Com isso já fiz os convites aos demais usuários que já se cadastraram no site para que contribuam de suas contas particulares, e, se ninguém se opor, devo fazer maiores alterações na conta de administrador - comunicando-os posteriormente do que foi feito.
Eu pretendo, com o tempo até alterar as condições do administrador, e fazer com que esta função seja mantida por mais de uma pessoa, ou até que seja um 'cargo' rotativo, mantido de tempos em tempos por algum de nós.

Aproveitei para fazer um back-up de segurança também, e conferir algumas funcionalidades - como limitações e condições aos posts de convidados, capacidade de edição e formatação de material e etcs. O que me leva a enquete que adicionei: O que vocês acham de gerar alguma renda ao blog com o Adserv? O valor não é muito, mas pode ajudar no caso de aquisição de domínio na rede ou provedor - no caso de alguma eventual cobrança - ou quiçá tudo dê certo, o patrocínio para publicação de material pro pessoal do blog, ou até mesmo de material aqui contido.

Boa semana a todos, e

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pythonianas: O sketch do escritório - Tiago Salviatti

Numa mesa de escritório, simples, sem muitos detalhes, além de uma infindável pilha de papel. Atrás dela um homem típico, comum até o último sentido da palavra, empunhando um carimbo, com o qual martela os papéis de um lado para o outro. Ele usa um terno tão típico, surrado e simples que dificilmente vá diferir dos milhões de ternos típicos, surrados e simples que tanto se vê por aí. O cenário é bastante comum, no qual milhares e milhares de nós já perderam milhares e milhares de horas precisando e procurando o formulário 12-B que precisa do carimbo e firma reconhecida por dois cartórios, mas é preciso deixar claro que pessoas, lugares, situações e nomes são apenas para efeitos de uma obra de ficção, qualquer semelhança é (ou não) coincidência.
...............................................................................................

No coração da África Central. Brasília. Dezesseis horas... Não, dezesseis horas não teria ninguém.... Catorze Horas... (Quer saber o melhor é ser honesto) DEPOIS DO ALMOÇO. Quinta-feira.
O burocrata em seu habitat natural, um dos maiores mistérios da natureza.
Sentado em sua mesa fosca e sem vida, encontra-se o burocrata, vivendo calma e pacificamente, em meio ao seu meio de subsistência primário: o papel.
Observe como ele se refestela com essa pequena resma, batendo com seu carimbo, que seu pequeno cérebro utiliza como talher.

Especula-se que na ocorrência de uma guerra nuclear, ao lado das baratas, somente os burocratas sobreviveriam. Cientistas acreditam inclusive que os burocratas são capazes de sobreviver por mais tempo, apesar de nenhum dos estudos realmente confirmar que baratas realmente se suicidem na presença de um burocrata (nem mesmo as dezenas de cartas suicidas assinadas encontradas todos os anos).

A reprodução dos burocratas é um fenômeno bastante estudado por diversos especialistas, que, nas últimas sete décadas foram completamente incapazes de presenciar nenhuma ocorrência da mesma, apesar do alarmante crescimento da espécie, principalmente em países em desenvolvimento com abundância de processos complexos para resolver problemas simples.
O biólogo austríaco Hans MacNamara, que estuda os burocratas desde sua formação há quatro décadas, acredita que a explicação para a profusão da espécie seja bastante simples, e suas teorias vem sendo bem aceitas entre os demais especialistas. Segundo Macnamara, o carimbo, este instrumento tão comum e corriqueiro de que tão poucos estudaram, é o órgão sexual, responsável pela reprodução cruzada das espécies, que valem-se da troca dos mesmos, incluindo as licenças afastamento decorrentes e preenchidas em três vias de igual valor entregues ao departamento pessoal.
Phil Hartman, da universidade de Chicago, porém, discute a integridade dessa descoberta, e acredita que na verdade a reprodução da espécie deva-se à mitose celular.
Até o presente momento, ambos os estudos são inconclusivos, aguardando liberação de verbas para a continuidade de pesquisas, preenchida e protocolada em cinco vias, a amarela, a azul, a branca, a rosa e uma de cor ocre, que, por algum motivo não se encontra disponível nas universidades, e alega-se que seja a via mais importante das demais, e insubstituível.

Preocupada com a proliferação dessa praga, a Manchester international inseticide pesticide corporation S/A, lotada em Itu, lança o novo produto Burocida, com tecnologia inovadora e revolucionária.

Enquanto os burocidas comuns agem somente na fonte, eliminando um burocrata por vez, o burocida Manchester vai mais longe, fazendo com que o burocrata leve o veneno para seu ninho, e, com isso ponha um fim ao problema.(O burocrata pega uma caixinha que estava em sua mesa, olha para os lados, e afasta-se ao lado do palco, onde cai, morto, e retorcendo-se).
Burocida Manchester, você conhece, é de qualidade.

O Ministério da Saúde adverte:O uso simples de Burocida pode causar cegueira, câncer, cancro, sífilis, e mais duzentas doenças que a empresa contesta a associação, apesar de toda sua divisão de pesquisas do produto ter morrido por causas misteriosas. Antes de usar, consulte a bula, e coloque equipamento de proteção para manipular equipamento nuclear.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A todos os amigos...

"Não me importa a cor dos seus olhos, mas me importa a frequência com que você sorri.
Eu acredito que somos mais que corpos e curvas e cores, somos uma mistura de algo palpável, que preenche um abraço, que aquece, e de algo mágico e que nos torna únicos, talvez aquilo que os místicos chamam de ‘alma’.
Eu vejo além da pele, eu quero o que é real.
Me conforta contemplar um sorriso, bem como uma tristeza, porque assim eu sei que você é como eu, que não deixa de chorar quando tem motivo, nem de rir quando tem vontade.
Eu não estou à venda, nada do que você tem me atrai, eu quero o que você é.
Não me mostre os seus atributos, as suas qualidades, as suas conquistas, me mostre algo real, humano, um erro, um arrependimento.
Não tente ser agradável, não tente me impressionar, nós não precisamos gostar das mesmas coisas, nem pensar do mesmo modo pra ser felizes juntos.
Vamos compartilhar o que temos em comum e, principalmente, vamos aprender com o que temos de diferente.
Esteja perto sempre que puder, mas esteja longe na medida certa: o suficiente para que eu sinta sua falta, mas não demasiado, a ponto de que eu te esqueça.
Deixe o futuro pra amanhã, o hoje é a única certeza que temos.
Não desperdice uma noite de chuva, nem um dia de sol fazendo planos pra daqui a dez anos, porque até lá, você não será mais o mesmo, não terá os mesmos objetivos e os planos terão sido em vão.
Não se preocupe, o tempo nos ensinará o que precisamos saber.
Apenas seja, deixe estar e siga em frente… ".
 
Juliane Carla

ONTEM EU ATÉ DORMI! - Julio Lins

Algo tirava o sono de Benedito Bastião, todos estavam preocupados. Seu Bené, como é conhecido por todos no Banco, era sujeito pacífico, daquele tipo que faz amizade até em fila de supermercado. Outro dia brigara com Zefinha, sua “patroa”, porque depois de dividir algumas cervejas com um desconhecido no bar da esquina, como todo bom brasileiro, disparou na despedida: “qualquer dia desses apareça lá em casa pra gente tomar uma gelada e bater uma feijoada”.Até aí tudo bem, o problema é que o ilustre desconhecido foi! Pode uma coisa dessas? Zefinha ficou jururu. Não é pra menos, em tempos de crise a frase certa seria: “qualquer dia desses eu apareço na sua casa...”.

E quanto ao sono de Benedito? Pergunta-me o impaciente leitor. Calma! Afinal de contas, como diriam os sábios, a paciência tudo alcança, ou ainda, os calmos herdarão a terra; paciência é sinônimo de sabedoria. Tem também aquele outro que diz...

A essa altura o leitor já rasgou o papel. Aqueles mais impacientes pularam da ponte ou talvez debaixo do trem. Temendo pela minha vida e não querendo sentir remorso ou ser processado por qualquer incidente que ocorra, voltarei a seu Bené e o que tirava seu sono.

Seu Bené nem formiga pisava, mas ai de quem dissesse, sequer pensasse que existia um som mais potente, ou como se diz no ramo mais “porradão” que o do seu carro. Aliás, entre os que disputam esse esporte, carro é o que menos importa. Na verdade o automóvel é apenas o meio de transporte das toneladas de equipamento sonoro, levando de bar em bar as músicas que falam das "dores e agruras do coração de quem ama".

Pois bem, de uns tempos pra cá a tristeza no semblante de Seu Bené era percebida por todos; no Banco, na rua onde morava, e até as amigas de Zefinha já comentavam na igreja.

Antes de mais nada, seria propício esclarecer ao atento leitor, que o Banco não é o local de trabalho do nosso personagem há muito aposentado por invalidez pelo Estado, e sim o nome do seu bar preferido. Por sinal o Banco fica distante duas casas de onde este insone (e talvez insano), humilde e devotado amigo vos escreve e contempla seus dias e noites desta vida passageira.

Seria alguma doença grave? A morte de algum parente? Ou perdera seu dinheiro numa aposta? Nada disso. A história é mais triste do que se pode supor e tem requintes de crueldade insuperáveis pelo pior dos criminosos. Crianças saiam da sala!

Era uma sexta-feira por volta das nove horas post meridiem, chegara ao Banco como fazia todos os finais (e meios) de semana, Julio Iglesias anunciava sua presença por todo bairro. Seu Zé, dono do bar, poupava o som ambiente para evitar comparações. O nosso herói desceu do carro e começou a “virar” copos de cerveja intermediados por alguns saudáveis aperitivos.

Aumentei o volume da TV, fechei as janelas, ritual sagrado para todos da rua. Seu Bené vez por outra parava a conversa (que variava entre futebol e futebol) e chamava atenção dos amigos para a música que ele achasse “porreta” acompanhando alguns versos da mesma. Mais tarde de volta ao futebol, ouviu-se um barulho de vidros estilhaçando e um silêncio nunca visto antes.

Levantando-se rapidamente da mesa, seu Bené segundo contam, correu na direção de seu carro em frente ao bar e ainda conseguiu avistar o vulto do meliante virando a esquina com seu tocador de cd’s importado. Eram umas onze horas. – “De quebra aquele ser desumano ainda levou algumas preciosidades da música desse século” – dizia uma das testemunhas alcoolizadas...

Seu Bené era só desolação; não teria como comprar tão cedo outro som daqueles; sua vida social estava arruinada. – “O desgraçado não deixou nem terminar a música do Reginaldo...”. Seu grito ecoava pelos ares.

O mundo ficou em paz.
(Pausa para contemplar o silêncio)

Pessoas assistem TV e há mais diálogo em família agora que se escutam. Rostos felizes, janelas abertas, ouve-se o vento passar... Ontem eu até dormi! Seu Bené não é mais feliz.

Por sinal tem alguém aí interessado em um tocador de cd’s importado de segunda mão? Ta novinho novinho...


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dirigido por Sergio Leone - Tiago Salviatti

Meio dia. Sol a pino, ruas desertas, pessoas se escondendo e fitando a vindoura tragédia.
Os dois medem-se, entreolham-se furiosos.
O ar está elétrico.
Corações pulsam em ritmo acelerado. Os poucos curiosos fitam, apreensivos, cientes do banho de sangue que está por vir.
Há medo e fúria, e até o sol parece se esconder atrás de uma nuvem.
Sem maiores cerimônias, começa.
_ Os discos do Beatles são meus!!! - dispara Rosana 'the Kid' Saldanha, com toda a ferocidade, acertando apenas de raspão.
_ Tudo bem... Mas o livro autografado pelo Saramago é meu! - rebate Pedro 'Tex' Gomes.
As balas continuam a voar, de um lado pro outro, de outro pra um, cada vez mais perigosas e assassinas. Cada vez atingindo em partes mais vitais.
Os copos de cristal. A prataria. As jóias. O carro!
Há uma pausa, um interlúdio para o derradeiro embate. Ainda tinham uma ou outra bala no coldre, e sabiam que precisavam valorizar esta oportunidade. E a cavalaria chega.
_ Seu marginal! O que você está fazendo com minha filha! Antes de você aparecer nós eramos uma família...
E logo os índios.
_ Vai tomar no olho do seu **, seu b****! Se fica só achando que vale mais do que a gente? Seu *****!!!
Um conflito sangrento e violento que não parecia perto de seu fim, ou seu ápice.
Há silêncio. As balas param, não há mais conflito. Não há mais nada.
O vencedor parte, ainda cambaleante, rumo ao horizonte.


E sobem os créditos, ao som de Ennio Morricone

Foto da Galera - Tiago Salviatti

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

NO REINO DAS ÁGUAS - Julio Lins

No Reino das águas dançavam alegremente ao sabor das correntes e marés, Branco e Dourado.
Assim estava disposto a começar se fosse um conto infantil. Descreveria o mundo encantado, borbulhante, porém inabitável para alguns de nós, mamíferos de nascença. Digo isso porque entre nós se escondem amebas e protozoários muitíssimo disfarçados e bem vestidos.

O problema é que este não é um conto infantil, portanto digo apenas que no aquário da minha casa há dois peixes e isso me inquieta pela responsabilidade implícita. Na verdade a vizinha do 303 viajou e pediu para que cuidássemos deles até a sua volta “não dá trabalho nenhum” afirmou convicta. Seria eu capaz de cuidar de dois seres indefesos?

O aquário ao qual me refiro não passa de uma tigela de vidro (acho que de colocar macarronada) e para evitar alguma contaminação, coberta com um cobertor de bolo branco, sabe aqueles bem baratos de loja de importados do Paraguai? Pois é esse mesmo. Para completar, o fundo foi coberto de pedras coloridas com o intuito de garantir a “veracidade” do ambiente, talvez obra de algum decorador “fashion”. Lamento informar, mas nas minhas andanças por esse mundinho nunca vi pedras coloridas com estas no mar.
   
Mas instruções foram deixadas e bem claras. Escritas em letras garrafais, repousando ao lado do aquário, são as tábuas das leis: colocar a ração (essa tem cheiro de sardinha podre), menos que uma pitada (?!) duas vezes ao dia. Vocês não acreditariam como comem pouco esses peixes. Além disso, tenho que trocar a água a cada três dias, missão esta que não me agrada muito visto que, da última vez, o vermelho quase se foi pelo ralo da pia ao encontro do mar. E isto basta para mantê-los vivos.

Nesse habitat surreal vivem agora sob minha tutela esses dois peixinhos... O Dourado chamado dessa forma por causa da sua cor de metal precioso.  Talvez por saber disso descansa como um rei no fundo do pote, observando pacientemente o agitado Branco, supracitado. Tenho aqui minhas ponderações científicas e acho a inquietude do Branco típica de quem já percebeu que o mundo ultrapassa as paredes de vidro. Um lago, um rio talvez ou quem sabe, um mar.

Eu, caríssimo amigo me identifico mais com o Branco. Acho que meu aquário poderia ser maior e talvez  eu me perdesse na imensidão do oceano azul cor de minha alma. Quanto ao Dourado oferece menos trabalho, tudo bem, mas sua acomodação deixou-me profundamente entediado... No que ele pensa enquanto respira?

Com o passar dos dias depois de muitas trocas de água, foi crescendo em mim sentimentos nada nobres e característicos daqueles que detém o poder de fato: a prepotência e o sadismo. Eu, homem simples e de reflexão sou o deus do aquário! A vida e o destino dos dois estão nas minhas mãos. Colocar um pouco menos de comida e bye bye, adeus peixinhos!!! Ou então “esquecer” de trocar a água e vê-los perder o fôlego lentamente.

Peço calma ao leitor, pois não o farei. Se esse texto não é infantil não significa que vou transformá-lo numa carnificina dos filmes de terror e jornais da tarde. Já tomei meu remédio controlado e aqueles impulsos sumiram que foi uma beleza.

Mas minha calma se desfez ao ouvir o "blim blom". Era chegada a hora, e assim como o feriado, a estada do aquário na minha casa acabou. Minha responsabilidade diária se foi e sinto um vazio no meu peito. Sinto que estou passando mal... Uma falta de ar crescente...
........................................................................................................

Acordei no meio da madrugada e a falta de ar continua. Passo a mão no pescoço, pois algo me incomoda, sinto uma ferida aberta atrás da orelha, abro a porta e me ponho a correr por instinto na direção do mar, de súbito, mergulho no Porto da Barra. Respiro melhor. Meus pés viraram barbatanas e me ponho a nadar pelo Atlântico-Sul. Se for um sonho alguém me belisque por favor, do contrário adeus às pessoas amadas. Vou à procura das pedras multicores.