domingo, 19 de dezembro de 2010

O Jornal

Uma singela homenagem a Paulo Francis

Em uma cidadezinha do interior de São Paulo, próxima de uma divisa com outro estado, numa cidade pequena daquelas que mal tem um jornal - mas que por ordem do acaso e vontade política de uns e outros acabou acontecendo - o editor deste periódico, de nome emblemático 'A Tribuna', resolveu, por falta de alguém mais competente ou de verba no orçamento, escrever o editorial opinativo que por algum motivo era a coluna menos glamourosa e batizada na redação de 'o cantinho que sobrar', entre outras opções menos elegantes.
Com a falta de espaço corriqueira, usava pequenas poesias e frases inspiradoras para motivar seus leitores e amigos, enquanto preparava um elaborado texto para a edição de domingo, que, como dizia, de um jeito ou de outro traria suas palavras, nem que tivesse que cortar espaço de outras matérias. Não foi preciso, e com isso sua matéria contemplou quase metade da segunda página do jornal, e, ele orgulhoso, antes mesmo das prensas secarem tirou sua cópia e fez os preparativos para emoldurar o trabalho.
Esperou reações diversas da população devido a seu inflamado texto polêmico.
Tudo o que recebeu foram duas cartas. E uma era para a seção do horóscopo trazendo uma reclamação.
Indignado, preparou outro texto, ainda mais ferino e poderoso para o domingo seguinte, e, ocupando o mesmo espaço, fez o mesmo ritual da semana anterior para emoldurar este, que, segundo ele era seu melhor trabalho até o momento.
Nenhuma reação.
Perguntava aos amigos no boteco, nas ruas, e entre 'nhés' e 'mas tinha uma coluna na segunda página?', começou a perder a esperança de seu trabalho.
Desiludido, passou a semana inteira desmotivado e incapaz de escrever mais que uma linha. Três palavras, na verdade: "Corrupção de novo", que seria o título de sua matéria sobre um escândalo que vinha sendo discutido e analisado - e que devido a alguns acordos e concessões vinha sendo mascarado pela imprensa.
Foi pra casa mais cedo no sábado, com uma dor de cabeça, e acabou não vendo a finalização do jornal.
Eis que, num descuido ou falta de matérias ou acaso completo, naquele espaço semi-vago da segunda página vê-se estampado, em letras maiores que o normal - para que a página parecesse menos vazia, com duas pequenas alterações "Corrupção, de novo?".
Um rebuliço se instaurou na cidade. A população saiu em polvorosa querendo a cabeça do corrupto. A polícia tentava de todas as formas conter o caos, e imprensa e políticos locais trocavam acalorados 'elogios', enquanto tanto o autor direto, quanto o indireto da peça encontravam-se indiferentes aos acontecimentos.
Reza a lenda que a polícia federal interviu, prendendo os políticos locais envolvidos no escândalo, e que o, até então jornaleco ganhara renome, prestígio e alguns prêmios pelo dinanismo, inovação e brilhante jornalismo investigativo. Também reza a lenda que o autor e até então editor do jornal fora demitido antes de qualquer uma das reações positivas, e que, tempos depois não escrevia nem para fazer palavras cruzadas.
Mas isso é apenas uma história de jornal, e, como tantas, não deve ser vista como muito mais que isso.

Um comentário:

  1. isso é o que dá escrever aqui no Brasil...onde já se viu! Vai jogar futebol e encher a cara de Itaipava!

    O povo só quer ouvir falar da falácia do "aquecimento global" e outras mentiras repetidas...

    esse é o nosso retrato... só bucoWHISKY poderia nos salvar!

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